quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Não éramos paranóicos o suficiente..."

(Fiz a tradução do texto abaixo, meio longo, mas muito importante para ser ignorado. Se vocês pensam que ele descreve apenas uma realidade política americana, pensem de novo. Alguém tem a menor dúvida de qual é o projeto da bancada evangélica e seus apoiadores para nosso país? Ou vocês acham que o bordão "O Brasil é de Cristo", uma vez no poder, vai aceitar que o Brasil TAMBÉM pode ser de Buda, de Krishna, de Maomé, de Baha'u'llah, etc., e também dos ateus? Tsc, tsc... Pensem de novo. Acho que não consideraram as "letras miúdas" do contrato...)

Uma conspiração cristã para Dominação?
(por Michelle Goldberg)

Aug 14, 2011 10:51 PM EDT
Michele Bachmann e Rick Perry não são apenas fiéis – ambos têm profundos laços com um movimento fundamentalista extremo conhecido como Dominionismo, o qual diz que cristãos deveriam governar o mundo.

Com Tim Pawlenty fora da disputa presidencial, é agora justo dizer que o candidato GOP será ou Mitt Romney ou alguém que faça George W. Bush parecer Tom Paine. Dos três candidatos mais plausíveis para a indicação do Partido Republicano, dois são profundamente associados com uma vertente teocrática do fundamentalismo cristão conhecida como Dominionismo. Se você quiser entender Michele Bachmann e Rick Perry, entender o Dominionismo não é opcional.

Dito de maneira simples, o Dominionismo significa que os cristãos têm o direito divino de governar todas as instituições terrenas. Originando-se entre alguns dos teocratas mais radicais dos Estados Unidos, ele vem tendo uma longa influência na educação da direita religiosa e na organização política. Mas, devido a parecer tão outré, fazer as pessoas comuns levarem-no a sério pode ser difícil. A maioria dos escritores, inclusive eu, que o analisam, têm sido chamados de paranóicos. Em um polêmico review de diversos livros (no First Things de 2006), incluindo o “Teocracia Americana” de Kevin Phillips, e meu próprio “Venha o Reino: a Ascensão do Nacionalismo Cristão”, o colunista conservador Ross Douthat escreveu: “o temor da teocracia se tornou o pânico definidor da era Bush.”

Agora, entretanto, temos o campo republicano mais teocrático da história americana, e repentinamente, o conceito de Dominionismo está alcançando as platéias principais. Escrevendo sobre Bachmann em The New Yorker neste mês, Ryan Lizza empregou muitos parágrafos explicando como a premissa se encaixa no desenvolvimento intelectual e teológico da congressista de Minnesota. E uma recente matéria de capa do Texas Observer sobre Rick Perry examinou seu relacionamento com a Nova Reforma Apostólica, uma variante dominionista de pentecostalismo que coalesceu cerca de uma década atrás. “O que faz o movimento da Nova Reforma Apostólica tão poderoso é seu crescente fascínio por se infiltrar na política e no governo,” escreveu Forrest Wilder. Seus membros “acreditam que os cristãos – alguns cristãos – estão destinados não apenas a assumir o ‘domínio’ sobre o governo, mas furtivamente escalar as alturas do comando do que eles denominam as ‘Sete Montanhas’ da sociedade, incluindo a mídia e o mundo das artes e entretenimento.”

Em muitos sentidos, o Dominionismo é mais um fenômeno político do que teológico. Ele atravessa denominações cristãs, desde os grupos severos, austeros até a cultura de sinais-e-maravilhas das modernas mega-igrejas. Pense nisso como um islamismo político, que molda o ativismo de numerosos movimentos fundamentalistas antagônicos [entre si], dos Wahabis sunitas no mundo árabe aos fundamentalistas xiitas no Irã.

O Dominionismo deriva de um pequeno grupo periférico chamado Reconstrucionismo Cristão, fundado por um teólogo calvinista chamado R. J. Rushdoony, nos anos 60. O Reconstrucionismo Cristão defendia abertamente a substituição das leis americanas pelas escrituras do Velho Testamento, repletas de penas de morte para homossexualidade, aborto, e até para a apostasia. O apelo do Reconstrucionismo Cristão é obviamente limitado, e figuras da direita cristã principal como Ralph Reed têm denunciado [esse movimento].

Mas, se por um lado Rushdoony era totalitarista, ele foi prolífico e influente – desenvolveu suas teorias em numerosos livros, incluindo o extenso “Instituições da Lei Bíblica”, em 3 volumes. E suas idéias, junto com a de seus seguidores, tiveram  um incalculável impacto nos arredores de onde brotaram tanto Bachmann como Perry.

Rushdoony foi o pioneiro do movimento de ensino doméstico cristão, bem como da história revisionista, difundidos pela direita religiosa, que pinta os Estados Unidos como uma nação fundada sobre princípios bíblicos. Ele consistentemente defendeu a escravatura sulista e a constrastou com os males piores do socialismo: “A lei aqui é humanitária e também não-sentimental”, escreveu. “Ela reconhece que algumas pessoas são por natureza escravas e sempre serão assim... O socialismo, ao contrário, tenta dar aos escravos todas as vantagens de sua segurança juntamente com os benefícios da liberdade, e no processo, destrói tanto a liberdade e o escravizado.”

A idéia mais influente de Rushdoony foi o conceito de Dominionismo, que se espalhou muito além da periferia reconstrucionista cristã. “ ‘Teólogos dominionistas,’ como são chamados, depositam grande ênfase em Gênesis 1:26-7, onde Deus diz a Adão para assumir o domínio sobre o mundo animado e inanimado,” escreveu o erudito Garry Wills em seu livro “Sob Deus: Religião e Política Americana”, descrevendo a influência da ideologia sobre Pat Robertson. “Quando o homem caiu, seu controle sobre a criação foi confiscado; mas o salvo, que foi restaurado pelo batismo, pode reclamar novamente os direitos concedidos a Adão.”

Para os crentes no Dominionismo, o governo pelos não-cristãos é um tipo de sacrilégio – o qual explica, em parte, a fúria teológica que tem acompanhado a eleição dos nossos últimos dois presidentes do Partido Democrata. “Os cristãos têm uma obrigação, um mandato, uma comissão, uma santa responsabilidade de reclamar a terra para Jesus Cristo – para assumir o controle das estruturas civis, tanto quanto em todos os outros aspectos da vida e do que pertence a Deus,” escreveu George Grant, o ex-diretor executivo dos Ministérios Coral Ridge, que desde então tiveram seu nome mudado para Ministérios Verdade em Ação. “Mas é o domínio que buscamos. Não apenas uma voz... É o domínio que buscamos. Não apenas igualdade de oportunidades… [mas] Conquista do mundo.”

Bachmann é próximo dos Ministérios Verdade em Ação; no último ano, ela apareceu em um de seus documentários, “Socialismo: Um Perigo Claro e Presente”. Nele, ela abraçou a idéia, comum nos círculos reconstrucionistas [cristãos], de que o governo não tem o direito de coletar impostos além de 10 por cento, a quantidade que os crentes são chamados a oferecer de dízimo à igreja. No website de sua campanha para o senado, ela recomendou um livro co-escrito por Grant intitulado “Chamado ao Dever: a Notável Nobreza de Robert E. Lee”, o qual, como Lizza relatou, descreveu a guerra civil [americana] como uma batalha entre os sulistas cristãos devotos e o nortistas infiéis a Deus, e louvou a escravatura como uma instituição benevolente. “A unidade e companheirismo que existiam entre as raças no sul [dos EUA] antes da guerra era o fruto de uma fé comum,” o livro diz.

Poder-se-ia ir além e além listando as influências dominionistas no pensamento de Bachmann. Ela cita com freqüência Francis Schaeffer, o patrono do movimento anti-aborto, que ministrou seminários sobre a obra de Rushdoony e ajudou a disseminar suas idéias para uma platéia evangélica mais ampla. John Eidsmoe, um professor da Universidade Oral Roberts, que, ela diz, “teve uma grande influência sobre mim”, é um cristão reconstrucionista. Ela frequentemente elogia o historiador nacionalista cristão David Barton, que está intimamente associado com o movimento cristão reconstrucionista; um artigo sobre escravatura no website de sua organização, Wallbuilders, defende a base bíblica da instituição [da escravatura], com numerosas citações de Rushdoony. (“As leis de Deus a respeito da escravatura forneceram parâmetros para o tratamento dos escravos, as quais são para o benefício de todos os envolvidos,”, diz).

Ao desenvolver a história dominionista de Bachmann, contudo, é importante salientar que ela não é a única. Perry tende a ser considerado como um pouco mais razoável do que Bachmann, mas ele é tão intimamente associado com o Dominionismo quanto ela, apesar de suas conexões serem com uma vertente diferente da teologia.

Para os crentes no Dominionismo, ser governado por não-cristãos é um tipo de sacrilégio.

Os reconstrucionistas cristãos tendem a ser céticos do pentecostalismo, com sua mágica, profecias, falar em línguas, e êxtases selvagens. Certamente, há sobreposições entre as tradições – [a Universidade] Oral Roberts, onde Bachmann estudou com Eidsmoe, foi uma escola pentecostal. Mas só recentemente que um grupo de pentecostais, a Nova Reforma Apostólica, criou seu próprio e distinto movimento dominionista. E membros vêem Perry como seu passaporte para o poder.

“Os Novos Apóstolos falam sobre assumir o domínio sobre a sociedade americana em termos pastorais,” escreveu Wilder no Texas Observer. “Eles se referem às ‘Sete Montanhas’ da sociedade: família, religião, artes e entretenimento, mídia, governo, educação e comércio. Esses são os centros nervosos da sociedade que Deus (ou seu povo) devem controlar.” Ele cita um sermão de Tom Schlueter, pastor Novo Apostólico íntimo de Perry. “Iremos nos infiltrar [no governo], não correr dele. Eu sei por que Deus está fazendo o que está fazendo... Ele está simplesmente dizendo, ‘Tom, Eu te dei autoridade em uma autoridade governamental, e eu preciso que tu te infiltres na montanha governamental.”

De acordo com Wilder, os membros da Nova Reforma Apostólica vêem Perry como seu veículo para reclamar a “montanha” do governo. Alguns têm dito a Perry que Texas é um “Estado profético”, destinado, com sua liderança, a trazer os Estados Unidos de volta para Deus. O movimento esteve profundamente envolvido no “The Response”, a maratona de orações massivas que Perry organizou em Houston mais cedo este mês. “Oito membros da ‘equipe líder’ do The Response são afiliados ao movimento Nova Reforma Apostólica,” escreveu Wilder. “A longa lista dos oficiais do The Response – postado no website do evento – parece um ‘quem é quem’ da multidão apostólico-profética, incluindo o fundador do movimento C. Peter Wagner.”

Nunca vimos antes esse tipo de coisa nos níveis mais altos do Partido Republicano. Aqueles de nós que escreveram sobre a influência fundamentalista cristã na administração Bush ficaram alarmados quando um de seus conselheiros, Marvin Olasky, esteve associado ao Reconstrucionismo Cristão. Parecia impensável, no momento, que um presidente americano estivesse recebendo conselhos de uma única pessoa cujas idéias fossem tão adversas à democracia. Poucos de nós imaginávamos que alguém que efetivamente defendesse essas idéias tivesse chance de [assumir] a Casa Branca. Acontece que não estávamos paranóicos o suficiente. Se Bush diluiu a separação entre igreja e Estado, o GOP está agora preparado para indicar alguém que desferirá um golpe total [contra essa separação]. Precisamos considerar suas crenças seriamente, porque eles certamente o fazem.

fonte:
http://www.thedailybeast.com/articles/2011/08/14/dominionism-michele-bachmann-and-rick-perry-s-dangerous-religious-bond.html


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Amizade com infiel!

Amigos,

só quem vive em um mundo cor-de-rosa imaginário se recusa a ver isso... Conheço dúzias de passagens bíblicas (sim, já li de cabo a rabo esse repositório de absurdos, como apologia explícita à escravidão e ao genocídio de crianças e mulheres) que endossam o que o pastor está dizendo logo abaixo.

Só quem é cristão sabe: de acordo com a Bíblia, o infiel NÃO É FILHO DE DEUS! (portanto, não é irmão do cristão...). Note bem: infiel é qualquer pessoa que não seja cristão. O infiel é só uma criatura de Deus, como uma árvore ou um cachorrinho. Só APÓS A CONVERSÃO, ele se torna filho de Deus POR ADOÇÃO, porque Jesus é o único filho de Deus. 

A amizade com o infiel só se justifica enquanto oportunidade para pregação. Isso é claro e ensinado abertamente (entre os cristãos - claro que não é algo muito político de se dizer fora das igrejas). Já passei muito por essa situação. Algum cristão muito esperto apenas finge interesse por sua religião, faz perguntas, etc., mas pura hipocrisia - eu já vi a estratégia sendo ensinada claramente em manuais de evangelização.

A Bíblia exorta claramente em numerosas passagens o fiel a não se associar com os mundanos, a não ser quando forem enviados "como ovelhas no meio de lobos" (Jesus) - ou, como deveríamos dizer, como "lobos em pele de ovelhas em meio às ovelhas"? Afinal, quem são os lobos mesmo aqui??

A verdadeira fraternidade humana é incompatível com o sectarismo. Diferenças de opiniões, preferências ou crenças são desejáveis e tornam o mundo um lugar muito interessante, desde que uma posição não atente contra a dignidade humana ou contra direitos civis plenamente justificados.




Feliz Dia do Amigo!

Merece ser divulgado...

 

Quarta, 20 de julho de 2011, 08h16

O moderno reacionário é a porta de entrada do velho fascismo

Reinaldo Marques/Terra
Em junho, Marcha das Vadias em São Paulo serviu de protesto contra declarações sobre estupro
Em junho, Marcha das Vadias em São Paulo serviu de protesto contra declarações sobre estupro

Marcelo Semer
De São Paulo

Se você não entendeu a piada de Rafinha Bastos afirmando que para a mulher feia o estupro é uma benção, tranquilize-se.

O teólogo Luiz Felipe Pondé acaba de fornecer uma explicação recheada da mais alta filosofia: a mulher enruga como um pêssego seco se não encontra a tempo um homem capaz de tratá-la como objeto.

Se você também considerou a deputada-missionária-ex-atriz Myriam Rios obscurantista ao ouvi-la falando sobre homossexualidade e pedofilia, o que dizer do ilustrado João Pereira Coutinho que comparou a amamentação em público com o ato de defecar ou masturbar-se à vista de todos?

Nas bancas ou nas melhores casas do ramo, neo-machistas intelectuais estão aí para nos advertir que os direitos humanos nada mais são do que o triunfo do obtuso, a igualdade é uma balela do enfadonho politicamente correto e não há futuro digno fora da liberdade de cada um de expressar a seu modo, o mais profundo desrespeito ao próximo.

O moderno reacionário é um subproduto do alargamento da cidadania. São quixotes sem utopias, denunciando a patrulha de quem se atreve a contestar seu suposto direito líquido e certo a propagar um bom e velho preconceito.

Pondé já havia expressado a angústia de uma classe média ressentida, ao afirmar o asco pelos aeroportos-rodoviárias, repletos de gente diferenciada. Também dera razão em suas tortuosas linhas à xenofobia europeia.

De modo que dizer que as mulheres - e só elas - precisam se sentir objeto, para não se tornarem lésbicas, nem devia chamar nossa atenção.

Mas chamar a atenção é justamente o mote dos ditos vanguardistas. Detonar o humanismo sem meias palavras e mandar a conta do atraso para aqueles que ainda não os alcançaram.

No eufemismo de seus entusiasmados editores, enfim, tirar o leitor da zona de conforto.

É o que de melhor fazem, por exemplo, os colunistas do insulto, que recheiam as páginas das revistas de variedades, com competições semanais de ofensas.

O presidente é uma anta, passeatas são antros de maconheiros e vagabundos, criminosos defensores de ideais esquerdizóides anacrônicos e outros tantos palavrões de ordem que fariam os retrógrados do Tea Party corarem de constrangimento.

Não é à toa que uma obscura figura política como Jair Bolsonaro foi trazida agora de volta à tona, estimulando racismo e homofobia como direitos naturais da tradicional família brasileira.

E na mesma toada, políticos de conhecida reputação republicana sucumbiram à instrumentalização do debate religioso, mandando às favas o estado laico e abrindo a caixa de Pandora da intolerância, que vem se espalhando como um rastilho de pólvora. A Idade Média, revisitada, agradece.

Com a agressividade típica de quem é dono da liberdade absoluta, e o descompromisso com valores éticos que consagra o "intelectual sem amarras", o cântico dos novos conservadores pode parecer sedutor.

Um bad-boy destemido, um lacerdista animador de polêmicas, um livre-destruidor do senso comum.

Nós já sabemos onde isto vai dar.

O rebaixamento do debate, a política virulenta que se espelha no aniquilamento do outro, a banalização da violência e a criação de párias expelidos da tutela da dignidade humana.

O reacionário moderno é apenas o ovo da serpente de um fascismo pra lá de ultrapassado.


Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.

Fale com Marcelo Semer: marcelo_semer@terra.com.br ou siga @marcelo_semer no Twitter

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5250800-EI16410,00-O+moderno+reacionario+e+a+porta+de+entrada+do+velho+fascismo.html

sexta-feira, 24 de junho de 2011

MARCHA DO ÓDIO...

Amigos, o fundamentalismo religioso é uma doença social e espiritual, altamente contagiosa, alimentada pelo senso comum e pelo subjetivismo que se acha muito inteligente, pela ausência de formação científica adequada nas escolas espertamente mantidas por igrejas, pelo emocionalismo barato sendo explorado por pregadores gananciosos...

Observem as lideranças evangélicas nacionais dessa "marcha para Jesus"... Marcelo Crivella (da Igreja Universal - sem comentários...), Silas Malafaia (vocês já viram esse indivíduo falando na tv? Eu nunca vi alguém mais violento e raivoso, pior que Bolsonaro!), Estevam Hernandes (sim, o "apóstolo" da ex-igreja de Kaká que foi preso tentando entrar  nos EUA com milhares de dólares escondidos em bíblias!)...

ISSO é cristianismo. Sua própria Bíblia diz: "pelos seus frutos os conhecereis". Esses são os frutos do cristianismo. Parem de se enganar: eles são A REGRA E NÃO A EXCEÇÃO. Sofreram lavagem cerebral (os seguidores -- porque no caso dos líderes, duvido totalmente de sua sinceridade!) e acreditam cegamente que estão fazendo a vontade de um ser supremo (que, pasmem, seria o bem supremo e a sabedoria suprema).

Para se defender, como não têm argumentos lógicos, usam "pérolas de sabedoria" do tipo: "os cientistas são todos ateus, portanto, não leve a sério o que eles falam" (exceto na hora de recorrer aos avanços científicos, porque não são burros - usam o que lhes convém do jeito que lhes convém...) ou "os juízes do STF que apoiaram por unanimidade os direitos civis para lgbts são todos manipulados por Satanás"... etc... O que pode ser dito diante de tanto non sense? São simplesmente INCAPAZES de raciocinar OBJETIVAMENTE. É inútil e frustrante tentar argumentar!

Parem de se enganar tentando tapar o sol com a peneira. O falso discurso do "Jesus te ama e eu também" ou "Deus ama o pecador, mas detesta o pecado" são estratégias para desarmar a vítima incauta, que geralmente está vulnerável emocionalmente por algum motivo. Essas estratégias são cuidadosamente ensinadas aos evangelizadores. Coloquem diante deles situações delicadas como aborto, pesquisa com células-tronco embrionárias, direitos civis para homoafetivos, etc., e vejam o "amor de Jesus" em ação...

Aconteceu comigo há alguns anos: eu estava participando de um encontro multirreligioso (sim! com dezenas de líderes de religiões diferentes, de várias partes do mundo - tinha até rabino judeu e sheik islâmico abraçados!). No intervalo entre as conferências, eu estava conversando com uma amiga do lado de fora do prédio quando um grupo de jovens evangélicos fundamentalistas (que não estavam participando do evento) apareceu panfletando suas mensagens de "amor". Um rapaz muito gentil e sorridente se aproximou de nós, distribuiu os panfletos e disse o bordão "Jesus te ama". Automaticamente, eu sorri de volta e retribuí "Krishna e Buddha também te amam". O rapaz se transfigurou numa imagem de ódio e começou a gritar que eu estava zombando de "Deus", até que seus correligionários o levaram. Esse missionário não foi bem treinado o suficiente para dissimular o que está por trás da mensagem de "amor" deles. Minha amiga e eu ficamos chocados.


Talvez não seja possível evitar a "nova Idade Média", mas não podemos simplesmente nos calar. Os profetas do ódio podem ser encontrados em qualquer esquina, no seu ambiente de trabalho, no vizinho da frente ou do lado da sua casa, disfarçados de "gente boa, tranquila". Pensem, observem à sua volta e vejam se não é verdade... Na parede de um consultório, no rodapé de um outdoor, num cartão de apresentação, no adesivo de um carro, etc. é fácil ver como "dão testemunho". Quando se junta ou quando vota, o exército da intolerância faz muito barulho, e sente muita confiança em seu número. São muito desunidos em suas facções, mas extremamente unidos para combater os "infiéis".

Não precisamos fazer tanto barulho quanto eles, se agirmos de maneira unida e consciente, votando certo, não nos deixando enganar, estudando e se informando, educando nossas crianças, promovendo a educação científica, participando de movimentos sociais. Pensem nisso. Façam a diferença, mesmo que não haja muita esperança... Nunca se sabe... A omissão simplesmente não é uma alternativa.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Testemunho pessoal...

(Escrevi esse texto em 2009, e publico com algumas modificações, mas ainda corroboro os argumentos apresentados...)

Testemunho para meus amigos - reflexões sobre o especismo (discriminação baseada na espécie) e vegetarianismo

Fui ovo-lacto-vegetariano "radical" (ou seja, não ingeria nenhum animal morto - só ovos não-fecundados, laticínios e produtos de origem vegetal) por cerca de dez anos. Minhas motivações eram principalmente éticas, embora apoiadas por dados científicos. Comprei muitas brigas, mas também "converti" uma boa dezena de pessoas ao vegetarianismo - algumas permanecem fiéis à dieta até hoje.

Deixei o vegetarianismo há alguns anos por uma recomendação terapêutica que hoje considero bastante infundada (não necessariamente falsa, mas não comprovada como parecia ser) de que pessoas do meu tipo sanguíneo (O) por razões x e y precisavam da ingestão de carne vermelha. Falei para o terapeuta que eu me recusava a comer vacas e porcos, mas que tentaria comer peixes e aves. Superando a repulsa natural de um organismo que abandonou o carnivorismo, consegui, aos poucos, voltar a me alimentar de "cadáveres de animais"...

Não preciso dizer que não vi absolutamente nenhuma vantagem (mas um monte de desvantagens!), durante esses anos todos, em comer carnes, exceto a facilidade em me "misturar" com outras pessoas carnívoras em refeições coletivas e em encontrar comida em restaurantes - é incrível como os carnívoros gostam de colocar carne em tudo (até no arroz e em saladas de verduras!!!). A outra vantagem - que só um vegetariano entenderia - foi parar de ouvir piadas e de ser ridicularizado em público!

Mesmo sendo brincadeira, e nem sendo mais eu estritamente vegetariano, considero de mau gosto, fazer piadas ridicularizando as motivações éticas para o vegetarianismo, porque é uma insensibilidade ignorante e perigosa diante de um dilema ético muito importante de nosso tempo. Por exemplo: "cadáveres de animais - como você, vegetariano, chama - são uma delícia, especialmente cozidos ou assados, (risos)..." Para um vegetariano consciente (não alguém que só está seguindo uma dieta da moda para emagrecer), seria quase como dizer: prefiro comer crianças e deficientes mentais bem cozidos, do que crus. Nesse caso, a brincadeira não pareceria grotesca?  Pois é assim que ela pareceria aos ouvidos de um vegano... Gostaria de ver argumentos mostrando a diferença ética entre devorar crianças ou outros seres sencientes indefesos e devorar animais não-humanos, argumentos que não apelem para religiões antropocêntricas...

Fora da recomendação pseudodivina, de que os animais não-humanos foram "criados" (diga-se de passagem, por um "deus" à imagem e semelhança do ser humano...) para nos servir, com suas peles, sua força ou sua carne, não há justificativa para o holocausto planetário que ocorre há milhões de anos. Qual a justificativa? Somos mais espertos? Somos superiores? Bem, as mesmas coisas podemos dizer de crianças ou deficientes mentais, não podemos? Ah, diriam talvez: mas nesse caso são seres humanos!! Eu responderia: e daí? Não entendo logicamente porque o mero apelo ao seu status de homo sapiens é uma evidência automática de sua superioridade... Ou será que os humanos são melhores e mais importantes simplesmente porque nós somos humanos, e o nosso time (partido/religião/orientação sexual/etc.) é sempre o melhor? Resumindo, não conseguimos justificar, não é?

Vamos colocar assim: imagine se, no jogo da seleção natural, outra espécie, além da nossa, tivesse desenvolvido um nível muito mais avançado de inteligência ou tivesse habilidades superiores às humanas (como, em nosso caso, temos em relação aos não-humanos: andar ereto, ter um polegar oposto aos outros dedos da mão, habilidades linguísticas refinadas, etc.)... Isso justificaria moralmente que essa outra espécie nos escravizasse e cultivasse em rebanhos para usar nossa carne, nossa pele ou nossa força bruta, ou nos usasse para pesquisa científica, abrindo nossos corpos sem anestesia enquanto estamos vivos e conscientes por horas? Não justificaria? Por qual razão mesmo? Claro que isso seria particularmente hediondo se ficasse comprovado que essa hipotética espécie nem sequer precisasse se alimentar de seres humanos!

A ciência já mostrou que os animais são mais do que meros bifes ambulantes ou espécies de "máquinas vivas" sem autoconsciência, como acreditava Descartes e pregam as religiões ocidentais. Algo que toda pessoa que cria um animal doméstico sabe: os animais não-humanos têm emoções, sentem dor e têm consciência (fazem escolhas, trocam informações complexas e têm personalidades peculiares).

Há décadas (pelo menos desde a década de 70), sabemos que muitos animais não-humanos são racionais e capazes não só de linguagem mas também de resolver problemas complexos e criar ferramentas novas, sem falar no fato de que eles sentem emoções (inclusive pânico diante da sua própria morte e angústia ao observar a morte de entes queridos - alguns inclusive pranteiam seus mortos em fascinantes rituais mesmo quando os cadáveres destes já estão reduzidos a ossos, como é o caso dos elefantes) e alguns dão clara demonstração de autoconsciência, entabulam conversas inteligentes entre si (golfinhos) e compõem complexas, originais e demoradas peças musicais a cada ano (baleias). Caso queiram pesquisar, tenho farto material científico a respeito da inteligência animal - a ciência que estuda o comportamento e a inteligência de nossos parentes darwinianos é chamada de etologia.

Pois bem, acredito firmemente que uma pessoa razoável só come carne sem peso na consciência se for ignorante dessas informações ou, tendo as informações, não refletiu sobre as consequências éticas de seu ato, excetuando-se, claro, os que não têm alternativa por viverem em locais extremos (como o povo Innuit ou outros que moram em locais onde não há vegetação comestível).

A lenha para a fogueira dessa controvérsia tem a ver com nossa suposta necessidade de consumo de carnes! Para mim, esse debate está totalmente ultrapassado por dois motivos: o estudo de nossa anatomia e fisiologia (humanas) diferem radicalmente de espécies realmente carnívoras (que têm diferenciações digestivas importantes para processar a carne ingerida) ou mesmo onívoras, e o fato de que mais de um terço da população humana mundial vive dietas primaria ou exclusivamente vegetarianas há milênios. Mesmo a maioria dos médicos e nutricionistas, habitualmente tendenciosos na defesa de seu carnivorismo, dão o braço a torcer ao admitir que é melhor consumir pouca carne!! Sem falar que todos os nutrientes de que precisamos podem ser fartamente encontrados no reino vegetal... Trata-se apenas de uma questão de nutrição balanceada. (Ninguém está sugerindo que se deixe de comer carne e passe a comer mal, mas que passe a comer melhor ainda!).

Para encerrar, em resposta a outra frequente piada do sempre falacioso senso comum: "daqui a pouco, vão dizer que tudo causa câncer, até os vegetais!", nunca ouvi dizer que vegetais comestíveis, pelo menos os cultivados organicamente, causem doenças, a não ser em pessoas que tenham alguma intolerância geneticamente herdada.


 E, além disso, em resposta a outra crítica que ouvi dezenas de vezes, comer vegetais não é crueldade, pelo menos não no mesmo sentido que matar animais para comer. Essa é a mais estúpida das falácias, usada até à exaustão em tom de ironia, pelos humanos carnívoros, que, via de regra, não estão nem um pouco preocupados com essa ou aquela crueldade, mas com ridicularizar os veganos. O ponto óbvio é que não temos, enquanto humanos, alternativa dietética no caso da ingestão de vegetais (diferente do caso da ingestão de animais!), e, até onde eu saiba, vegetais não têm sistema nervoso nem cérebro para sentir dor ou desenvolver consciência no sentido como conhecemos.

Atualmente, é raro eu tocar nesse assunto com quem quer que seja, sem que tenha sido solicitado a fazê-lo por alguém sincero. As pessoas simplesmente não têm interesse ou temem pensar sobre esse assunto. Também há tanta desinformação e preconceito envolvidos que alguns indivíduos têm uma forte reação emocional a respeito, se tornam agressivos e não conseguem pensar com clareza. Mas, tenho a esperança de que a postagem em um blog deixe a informação disponível para quem está pronto para processá-la.

Reflexões sobre o especismo...

Qual é mesmo a diferença entre cães/gatos e vacas/porcos/aves/etc., quando se trata de merecerem nosso amor ou nos importarmos com seu bem-estar? Nossa cegueira?

Quando vamos nos render às evidências (inclusive com abundante documentação científica!) de que muitos animais não-humanos são inteligentes, capazes de raciocínio (sim! já sabemos disso há décadas: sem treino prévio, fazem contas, resolvem complicados quebra-cabeças, usam linguagem para ensinar tarefas a outros, improvisam ferramentas para conseguir alimento - e não estou falando só de animais altamente inteligentes como chipanzés, elefantes e golfinhos, mas também de aves e roedores!), capazes de sentir dor física e emocional como nós (imaginem uma vaca vendo os filhos sendo cruelmente abatidos por conta de sua carne tenra, ou os filhotes vendo isso acontecer com os pais - eles literalmente choram de dor!), etc?

Ficamos chocados com crueldade contra crianças, mas a maioria dos animais torturados durante toda sua vida e cruelmente mortos para alimentar nosso excêntrico paladar são capazes de raciocínio equivalente ou superior às nossas crianças humanas. Além disso, sentem medo, dor, angústia, luto, pânico, stress, etc. Por que com crianças humanas ficamos chocados e com animais (e seus filhotes) não? Pensem.

Estamos falando de seres autoconscientes. Existem testes muito convincentes para se determinar isso. E mesmo os que não sabemos com certeza se são autoconscientes, são certamente capazes de sentir dor (têm nervos, cérebro, gritam e desmaiam de dor, etc.). Você sabe o que é sentir dor? Por que não liga para a dor do animal sendo torturado lentamente e morto de maneira cruel? Se refletirmos sobre nossa atitude, não me parece muito diferente da do psicopata que não consegue se importar com a dor de sua vítima. A vítima está sentindo uma coisa chamada "dor", mas isso não é algo com que ele se identifica. Essa "dor" do outro lhe é estranha, não tem nada a ver com a dor que ele, o psicopata, o torturador da ditadura militar, o nazista, é capaz de sentir.

Para os que acham que isso é catequização, reflitam. A catequização subestima sua capacidade de raciocinar por si mesmos. É o que a cultura e as religiões dogmáticas fazem conosco. Aqui apresentamos subsídios para raciocínios. É o que a ciência e a filosofia fazem. DES-catequizarem a gente.

Gostamos de nos colocar como a espécie mais importante do planeta. Mas, isso do ponto de vista de quem? do nosso, claro! Se fizermos um esforço de imaginação e nos colocarmos do ponto de vista do ecossistema, da complexa rede de espécies ou mesmo de algo como o próprio planeta, o que seria mais vantajoso para eles: que a espécie humana tivesse aparecido ou não no jogo da seleção das espécies?

Food for thought... Material para reflexão, não?

(Apesar do tom emocional desta mensagem, existe farto material científico e ético para quem aceitar o desafio da reflexão. E se alguém quiser discutir o assunto objetivamente, também estou à disposição...)