quinta-feira, 21 de julho de 2011

Amizade com infiel!

Amigos,

só quem vive em um mundo cor-de-rosa imaginário se recusa a ver isso... Conheço dúzias de passagens bíblicas (sim, já li de cabo a rabo esse repositório de absurdos, como apologia explícita à escravidão e ao genocídio de crianças e mulheres) que endossam o que o pastor está dizendo logo abaixo.

Só quem é cristão sabe: de acordo com a Bíblia, o infiel NÃO É FILHO DE DEUS! (portanto, não é irmão do cristão...). Note bem: infiel é qualquer pessoa que não seja cristão. O infiel é só uma criatura de Deus, como uma árvore ou um cachorrinho. Só APÓS A CONVERSÃO, ele se torna filho de Deus POR ADOÇÃO, porque Jesus é o único filho de Deus. 

A amizade com o infiel só se justifica enquanto oportunidade para pregação. Isso é claro e ensinado abertamente (entre os cristãos - claro que não é algo muito político de se dizer fora das igrejas). Já passei muito por essa situação. Algum cristão muito esperto apenas finge interesse por sua religião, faz perguntas, etc., mas pura hipocrisia - eu já vi a estratégia sendo ensinada claramente em manuais de evangelização.

A Bíblia exorta claramente em numerosas passagens o fiel a não se associar com os mundanos, a não ser quando forem enviados "como ovelhas no meio de lobos" (Jesus) - ou, como deveríamos dizer, como "lobos em pele de ovelhas em meio às ovelhas"? Afinal, quem são os lobos mesmo aqui??

A verdadeira fraternidade humana é incompatível com o sectarismo. Diferenças de opiniões, preferências ou crenças são desejáveis e tornam o mundo um lugar muito interessante, desde que uma posição não atente contra a dignidade humana ou contra direitos civis plenamente justificados.




Feliz Dia do Amigo!

Merece ser divulgado...

 

Quarta, 20 de julho de 2011, 08h16

O moderno reacionário é a porta de entrada do velho fascismo

Reinaldo Marques/Terra
Em junho, Marcha das Vadias em São Paulo serviu de protesto contra declarações sobre estupro
Em junho, Marcha das Vadias em São Paulo serviu de protesto contra declarações sobre estupro

Marcelo Semer
De São Paulo

Se você não entendeu a piada de Rafinha Bastos afirmando que para a mulher feia o estupro é uma benção, tranquilize-se.

O teólogo Luiz Felipe Pondé acaba de fornecer uma explicação recheada da mais alta filosofia: a mulher enruga como um pêssego seco se não encontra a tempo um homem capaz de tratá-la como objeto.

Se você também considerou a deputada-missionária-ex-atriz Myriam Rios obscurantista ao ouvi-la falando sobre homossexualidade e pedofilia, o que dizer do ilustrado João Pereira Coutinho que comparou a amamentação em público com o ato de defecar ou masturbar-se à vista de todos?

Nas bancas ou nas melhores casas do ramo, neo-machistas intelectuais estão aí para nos advertir que os direitos humanos nada mais são do que o triunfo do obtuso, a igualdade é uma balela do enfadonho politicamente correto e não há futuro digno fora da liberdade de cada um de expressar a seu modo, o mais profundo desrespeito ao próximo.

O moderno reacionário é um subproduto do alargamento da cidadania. São quixotes sem utopias, denunciando a patrulha de quem se atreve a contestar seu suposto direito líquido e certo a propagar um bom e velho preconceito.

Pondé já havia expressado a angústia de uma classe média ressentida, ao afirmar o asco pelos aeroportos-rodoviárias, repletos de gente diferenciada. Também dera razão em suas tortuosas linhas à xenofobia europeia.

De modo que dizer que as mulheres - e só elas - precisam se sentir objeto, para não se tornarem lésbicas, nem devia chamar nossa atenção.

Mas chamar a atenção é justamente o mote dos ditos vanguardistas. Detonar o humanismo sem meias palavras e mandar a conta do atraso para aqueles que ainda não os alcançaram.

No eufemismo de seus entusiasmados editores, enfim, tirar o leitor da zona de conforto.

É o que de melhor fazem, por exemplo, os colunistas do insulto, que recheiam as páginas das revistas de variedades, com competições semanais de ofensas.

O presidente é uma anta, passeatas são antros de maconheiros e vagabundos, criminosos defensores de ideais esquerdizóides anacrônicos e outros tantos palavrões de ordem que fariam os retrógrados do Tea Party corarem de constrangimento.

Não é à toa que uma obscura figura política como Jair Bolsonaro foi trazida agora de volta à tona, estimulando racismo e homofobia como direitos naturais da tradicional família brasileira.

E na mesma toada, políticos de conhecida reputação republicana sucumbiram à instrumentalização do debate religioso, mandando às favas o estado laico e abrindo a caixa de Pandora da intolerância, que vem se espalhando como um rastilho de pólvora. A Idade Média, revisitada, agradece.

Com a agressividade típica de quem é dono da liberdade absoluta, e o descompromisso com valores éticos que consagra o "intelectual sem amarras", o cântico dos novos conservadores pode parecer sedutor.

Um bad-boy destemido, um lacerdista animador de polêmicas, um livre-destruidor do senso comum.

Nós já sabemos onde isto vai dar.

O rebaixamento do debate, a política virulenta que se espelha no aniquilamento do outro, a banalização da violência e a criação de párias expelidos da tutela da dignidade humana.

O reacionário moderno é apenas o ovo da serpente de um fascismo pra lá de ultrapassado.


Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.

Fale com Marcelo Semer: marcelo_semer@terra.com.br ou siga @marcelo_semer no Twitter

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