quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Não éramos paranóicos o suficiente..."

(Fiz a tradução do texto abaixo, meio longo, mas muito importante para ser ignorado. Se vocês pensam que ele descreve apenas uma realidade política americana, pensem de novo. Alguém tem a menor dúvida de qual é o projeto da bancada evangélica e seus apoiadores para nosso país? Ou vocês acham que o bordão "O Brasil é de Cristo", uma vez no poder, vai aceitar que o Brasil TAMBÉM pode ser de Buda, de Krishna, de Maomé, de Baha'u'llah, etc., e também dos ateus? Tsc, tsc... Pensem de novo. Acho que não consideraram as "letras miúdas" do contrato...)

Uma conspiração cristã para Dominação?
(por Michelle Goldberg)

Aug 14, 2011 10:51 PM EDT
Michele Bachmann e Rick Perry não são apenas fiéis – ambos têm profundos laços com um movimento fundamentalista extremo conhecido como Dominionismo, o qual diz que cristãos deveriam governar o mundo.

Com Tim Pawlenty fora da disputa presidencial, é agora justo dizer que o candidato GOP será ou Mitt Romney ou alguém que faça George W. Bush parecer Tom Paine. Dos três candidatos mais plausíveis para a indicação do Partido Republicano, dois são profundamente associados com uma vertente teocrática do fundamentalismo cristão conhecida como Dominionismo. Se você quiser entender Michele Bachmann e Rick Perry, entender o Dominionismo não é opcional.

Dito de maneira simples, o Dominionismo significa que os cristãos têm o direito divino de governar todas as instituições terrenas. Originando-se entre alguns dos teocratas mais radicais dos Estados Unidos, ele vem tendo uma longa influência na educação da direita religiosa e na organização política. Mas, devido a parecer tão outré, fazer as pessoas comuns levarem-no a sério pode ser difícil. A maioria dos escritores, inclusive eu, que o analisam, têm sido chamados de paranóicos. Em um polêmico review de diversos livros (no First Things de 2006), incluindo o “Teocracia Americana” de Kevin Phillips, e meu próprio “Venha o Reino: a Ascensão do Nacionalismo Cristão”, o colunista conservador Ross Douthat escreveu: “o temor da teocracia se tornou o pânico definidor da era Bush.”

Agora, entretanto, temos o campo republicano mais teocrático da história americana, e repentinamente, o conceito de Dominionismo está alcançando as platéias principais. Escrevendo sobre Bachmann em The New Yorker neste mês, Ryan Lizza empregou muitos parágrafos explicando como a premissa se encaixa no desenvolvimento intelectual e teológico da congressista de Minnesota. E uma recente matéria de capa do Texas Observer sobre Rick Perry examinou seu relacionamento com a Nova Reforma Apostólica, uma variante dominionista de pentecostalismo que coalesceu cerca de uma década atrás. “O que faz o movimento da Nova Reforma Apostólica tão poderoso é seu crescente fascínio por se infiltrar na política e no governo,” escreveu Forrest Wilder. Seus membros “acreditam que os cristãos – alguns cristãos – estão destinados não apenas a assumir o ‘domínio’ sobre o governo, mas furtivamente escalar as alturas do comando do que eles denominam as ‘Sete Montanhas’ da sociedade, incluindo a mídia e o mundo das artes e entretenimento.”

Em muitos sentidos, o Dominionismo é mais um fenômeno político do que teológico. Ele atravessa denominações cristãs, desde os grupos severos, austeros até a cultura de sinais-e-maravilhas das modernas mega-igrejas. Pense nisso como um islamismo político, que molda o ativismo de numerosos movimentos fundamentalistas antagônicos [entre si], dos Wahabis sunitas no mundo árabe aos fundamentalistas xiitas no Irã.

O Dominionismo deriva de um pequeno grupo periférico chamado Reconstrucionismo Cristão, fundado por um teólogo calvinista chamado R. J. Rushdoony, nos anos 60. O Reconstrucionismo Cristão defendia abertamente a substituição das leis americanas pelas escrituras do Velho Testamento, repletas de penas de morte para homossexualidade, aborto, e até para a apostasia. O apelo do Reconstrucionismo Cristão é obviamente limitado, e figuras da direita cristã principal como Ralph Reed têm denunciado [esse movimento].

Mas, se por um lado Rushdoony era totalitarista, ele foi prolífico e influente – desenvolveu suas teorias em numerosos livros, incluindo o extenso “Instituições da Lei Bíblica”, em 3 volumes. E suas idéias, junto com a de seus seguidores, tiveram  um incalculável impacto nos arredores de onde brotaram tanto Bachmann como Perry.

Rushdoony foi o pioneiro do movimento de ensino doméstico cristão, bem como da história revisionista, difundidos pela direita religiosa, que pinta os Estados Unidos como uma nação fundada sobre princípios bíblicos. Ele consistentemente defendeu a escravatura sulista e a constrastou com os males piores do socialismo: “A lei aqui é humanitária e também não-sentimental”, escreveu. “Ela reconhece que algumas pessoas são por natureza escravas e sempre serão assim... O socialismo, ao contrário, tenta dar aos escravos todas as vantagens de sua segurança juntamente com os benefícios da liberdade, e no processo, destrói tanto a liberdade e o escravizado.”

A idéia mais influente de Rushdoony foi o conceito de Dominionismo, que se espalhou muito além da periferia reconstrucionista cristã. “ ‘Teólogos dominionistas,’ como são chamados, depositam grande ênfase em Gênesis 1:26-7, onde Deus diz a Adão para assumir o domínio sobre o mundo animado e inanimado,” escreveu o erudito Garry Wills em seu livro “Sob Deus: Religião e Política Americana”, descrevendo a influência da ideologia sobre Pat Robertson. “Quando o homem caiu, seu controle sobre a criação foi confiscado; mas o salvo, que foi restaurado pelo batismo, pode reclamar novamente os direitos concedidos a Adão.”

Para os crentes no Dominionismo, o governo pelos não-cristãos é um tipo de sacrilégio – o qual explica, em parte, a fúria teológica que tem acompanhado a eleição dos nossos últimos dois presidentes do Partido Democrata. “Os cristãos têm uma obrigação, um mandato, uma comissão, uma santa responsabilidade de reclamar a terra para Jesus Cristo – para assumir o controle das estruturas civis, tanto quanto em todos os outros aspectos da vida e do que pertence a Deus,” escreveu George Grant, o ex-diretor executivo dos Ministérios Coral Ridge, que desde então tiveram seu nome mudado para Ministérios Verdade em Ação. “Mas é o domínio que buscamos. Não apenas uma voz... É o domínio que buscamos. Não apenas igualdade de oportunidades… [mas] Conquista do mundo.”

Bachmann é próximo dos Ministérios Verdade em Ação; no último ano, ela apareceu em um de seus documentários, “Socialismo: Um Perigo Claro e Presente”. Nele, ela abraçou a idéia, comum nos círculos reconstrucionistas [cristãos], de que o governo não tem o direito de coletar impostos além de 10 por cento, a quantidade que os crentes são chamados a oferecer de dízimo à igreja. No website de sua campanha para o senado, ela recomendou um livro co-escrito por Grant intitulado “Chamado ao Dever: a Notável Nobreza de Robert E. Lee”, o qual, como Lizza relatou, descreveu a guerra civil [americana] como uma batalha entre os sulistas cristãos devotos e o nortistas infiéis a Deus, e louvou a escravatura como uma instituição benevolente. “A unidade e companheirismo que existiam entre as raças no sul [dos EUA] antes da guerra era o fruto de uma fé comum,” o livro diz.

Poder-se-ia ir além e além listando as influências dominionistas no pensamento de Bachmann. Ela cita com freqüência Francis Schaeffer, o patrono do movimento anti-aborto, que ministrou seminários sobre a obra de Rushdoony e ajudou a disseminar suas idéias para uma platéia evangélica mais ampla. John Eidsmoe, um professor da Universidade Oral Roberts, que, ela diz, “teve uma grande influência sobre mim”, é um cristão reconstrucionista. Ela frequentemente elogia o historiador nacionalista cristão David Barton, que está intimamente associado com o movimento cristão reconstrucionista; um artigo sobre escravatura no website de sua organização, Wallbuilders, defende a base bíblica da instituição [da escravatura], com numerosas citações de Rushdoony. (“As leis de Deus a respeito da escravatura forneceram parâmetros para o tratamento dos escravos, as quais são para o benefício de todos os envolvidos,”, diz).

Ao desenvolver a história dominionista de Bachmann, contudo, é importante salientar que ela não é a única. Perry tende a ser considerado como um pouco mais razoável do que Bachmann, mas ele é tão intimamente associado com o Dominionismo quanto ela, apesar de suas conexões serem com uma vertente diferente da teologia.

Para os crentes no Dominionismo, ser governado por não-cristãos é um tipo de sacrilégio.

Os reconstrucionistas cristãos tendem a ser céticos do pentecostalismo, com sua mágica, profecias, falar em línguas, e êxtases selvagens. Certamente, há sobreposições entre as tradições – [a Universidade] Oral Roberts, onde Bachmann estudou com Eidsmoe, foi uma escola pentecostal. Mas só recentemente que um grupo de pentecostais, a Nova Reforma Apostólica, criou seu próprio e distinto movimento dominionista. E membros vêem Perry como seu passaporte para o poder.

“Os Novos Apóstolos falam sobre assumir o domínio sobre a sociedade americana em termos pastorais,” escreveu Wilder no Texas Observer. “Eles se referem às ‘Sete Montanhas’ da sociedade: família, religião, artes e entretenimento, mídia, governo, educação e comércio. Esses são os centros nervosos da sociedade que Deus (ou seu povo) devem controlar.” Ele cita um sermão de Tom Schlueter, pastor Novo Apostólico íntimo de Perry. “Iremos nos infiltrar [no governo], não correr dele. Eu sei por que Deus está fazendo o que está fazendo... Ele está simplesmente dizendo, ‘Tom, Eu te dei autoridade em uma autoridade governamental, e eu preciso que tu te infiltres na montanha governamental.”

De acordo com Wilder, os membros da Nova Reforma Apostólica vêem Perry como seu veículo para reclamar a “montanha” do governo. Alguns têm dito a Perry que Texas é um “Estado profético”, destinado, com sua liderança, a trazer os Estados Unidos de volta para Deus. O movimento esteve profundamente envolvido no “The Response”, a maratona de orações massivas que Perry organizou em Houston mais cedo este mês. “Oito membros da ‘equipe líder’ do The Response são afiliados ao movimento Nova Reforma Apostólica,” escreveu Wilder. “A longa lista dos oficiais do The Response – postado no website do evento – parece um ‘quem é quem’ da multidão apostólico-profética, incluindo o fundador do movimento C. Peter Wagner.”

Nunca vimos antes esse tipo de coisa nos níveis mais altos do Partido Republicano. Aqueles de nós que escreveram sobre a influência fundamentalista cristã na administração Bush ficaram alarmados quando um de seus conselheiros, Marvin Olasky, esteve associado ao Reconstrucionismo Cristão. Parecia impensável, no momento, que um presidente americano estivesse recebendo conselhos de uma única pessoa cujas idéias fossem tão adversas à democracia. Poucos de nós imaginávamos que alguém que efetivamente defendesse essas idéias tivesse chance de [assumir] a Casa Branca. Acontece que não estávamos paranóicos o suficiente. Se Bush diluiu a separação entre igreja e Estado, o GOP está agora preparado para indicar alguém que desferirá um golpe total [contra essa separação]. Precisamos considerar suas crenças seriamente, porque eles certamente o fazem.

fonte:
http://www.thedailybeast.com/articles/2011/08/14/dominionism-michele-bachmann-and-rick-perry-s-dangerous-religious-bond.html